segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Os Bons Anos

Já não há nenhuns, apenas o fedor da infinita graça desta perambulação sem sentido, a infinita graça da visão em paralaxe.
«Ah, pobre Yorick! Eu conheci-o, Horácio, uma pessoa de infinita graça, da mais fina fantasia.»
Levantado o véu sobre o Melhor Livro de 2012 (era um de dois), fica Brian Eno para ouvir em repetição infinita (a música de sua preferência):



Uma suave e eficaz sobrevivência para 2013.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Os Melhores Álbuns Musicais de 2012

Sem muita conversa e sem dar importância ao que para e acolá se vai vendo de listas de final de ano – e o que não se vê é quase tudo o que aqui foi escolhido: ou estou completamente desfasado da realidade estética da música pop, rock, electrónica, ou alternativa contemporânea, ou ainda melhor, o vasto campo musical onde sempre me movi, e movimentava-me muitíssimo mais há coisa de uma ou duas décadas, levou-me à profissão destas dez heteróclitas escolhas –, chegou, pois, o momento de revelar a ordem de preferências dos álbuns que por aqui desfilaram desde o dia 10 de Dezembro.

Os Melhores Álbuns de 2012
  1. Tame Impala, Lonerism (Modular);
  2. Calexico, Algiers (City slang);
  3. ERAAS, ERAAS (Felte);
  4. Beach House, Bloom (Bella union);
  5. Stagnant Pools, Temporary Room (Polyvinyl);
  6. The xx, Coexist (Young Turks);
  7. Clinic, Free Reign (Domino);
  8. Animal Collective, Centipede Hz (Domino)
  9. PAWS, Cokefloat! (Fat Cat)
  10. David Byrne & St. Vincent, Love this Giant (4AD)
(Nota pertinentíssima – os dois primeiros foram os últimos a ser revelados, por ordem inversa, nos dias 20 e 21. Um verdadeiro passe de mágica… Subtileza artística. E Tudo! Pim!)

De seguida, é de todo justa a referência a quatro álbuns que também me encheram as medidas e que, para ser sincero, me dava uma vontade indómita de os colocar nas posições supramencionadas, por substituição dos 7.º a 10.º classificados.
Eis as minhas Menções Honrosas para 2012, com direito a vídeo (organizados por ordem alfabética do nome do músico ou da banda):

Andy Stott, Luxury Problems (Modern Love):


Lee Ranaldo, Between the Times and the Tides (Matador):


Moullinex, Flora (Gomma):


Patrick Watson, Adventures In Your Own Backyard (Domino):



Banda Sonora Original a destacar (escolha mais que óbvia para um radioheadiano-ptandersoniano):

Jonny Greenwood, The Master – O.S.T. (Nonesuch)

Já nem há muito mais para as decepções, basta referi-las e ouvi-las num lugar e numa data qualquer por esse espaço infinito: Air, Hives e os que continuam A Esmagar Abóboras since 1988 (thru 1995, ano que deveria ter ditado o fim).


Livros, talvez amanhã. Porém, continuam perfilados mesmo aí ao lado.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Os Melhores Filmes de 2012 e mais umas tralhas



Por problemas informáticos não publiquei, de acordo com o que pretendia, as listas que aqui referi mais cedo durante este dia, o dos despojos natalícios. Infelizmente, este não se fica pela famosa Roupa Velha, mas vai mais além, manifestando-se num conjunto bastante amplo de consumistas que dormem, quais vagabundos de cara tisnada pelo frio, à porta das grandes superfícies comerciais para adquirir o gadget ou a roupinha com logótipo de pretenso luxo a metade do preço, e posteriormente ostentar no bando pequeno burguês que envolve as suas vidas.
Resolvido o assunto informático, só me resta, sem muitas palavras, concretizar o que havia prometido. Deixo uma nota, apenas, para manifestar o não tão estranho desfasamento entre as listas publicadas abaixo e as outras organizadas por gente que entende da coisa e/ou que faz dela profissão. Se Amigos Improváveis (Intouchables, 2011) é o feel-good-movie-of-the-year, e aquele que mais receitas arrecadou no centenário cinema francês, isto não significa que a partir de agora assuma como premissa que a magnitude da multidão que aflui às salas de cinema demonstre uma razão para qualificar de belo, decente e tecnicamente perfeito o filme em questão; não me guio por isso, e até, na maioria das vezes, o popularucho provoca-me uma certa urticária, logo a popularidade não é, nem pode ser, uma razão directa ou inversamente proporcional para a apreciação; aqui e agora manifesto apenas o verdadeiro prazer que, confesso, com a tal desconfiança a priori, retirei do visionamento da obra da dupla Nakache e Toledano, a que em muito contribuiu o momento fílmico do brutal 3.º andamento do Concerto n.º 2 em sol menor das Quatro Estações de Vivaldi (“L’estate”, Presto). Nem posso deixar de referir a minha devoção kaurismakiana pelas efabulações visuais da vida como ela é, a que passa pelos nossos olhos, mas que não vemos ou entendemos, ou não a queremos olhar e compreender. Fincher teria de constar, apesar do franchise e do decalque americano da obra sueca. Finalmente, continuo a não entender os adoradores de Magic Mike do ardiloso Soderbergh – um fenómeno nebuloso para mim , mas que surgiu em várias listas de gente graúda nesta matéria ao lado dos melhores.
The End.

Os 10 Melhores Filmes de 2012 (por ordem de preferência):
  1. Martha Marcy May Marlene, de Sean Durkin (2011);
  2. Tabu, de Miguel Gomes (2012);
  3. O Cavalo de Turim, de Béla Tarr (A torinói ló, 2011);
  4. Amor, de Michael Haneke (Amour, 2012);
  5. Looper – Reflexo Assassino, de Rian Johnson (Looper, 2012);
  6. Holy Motors, de Leos Carax (2012);
  7. Cosmopolis , de David Cronenberg (2012);
  8. César Deve Morrer, de Paolo Taviani e Vittorio Taviani (Cesare deve morire, 2012);
  9. 4:44 Último Dia na Terra, de Abel Ferrara (4:44 Last Day on Earth, 2011);
  10. The Grey – A Presa, de Joe Carnahan (The Grey, 2012).

7 Menções Honrosas (por ordem alfabética do título em português):
  • Amigos Improváveis, de Olivier Nakache e Eric Toledano (Intouchables, 2011);
  • Crónica, de Josh Trank (Chronicle, 2012);
  • O Dia Antes do Fim, de J.C. Chandor (Margin Call, 2011);
  • Elena, de Andrey Zvyagintsev (2011);
  • Le Havre, de Aki Kaurismäki (2011);
  • Millennium 1 – Os Homens que Odeiam as Mulheres, de David Fincher (The Girl with the Dragon Tattoo, 2011);
  • Temos de Falar Sobre Kevin, de Lynne Ramsay (We Need to Talk About Kevin, 2011).

Como se tornou hábito neste blogue, é divulgada uma lista de filmes supostamente preciosos e imperdíveis que, por vários motivos, não tive a oportunidade de ver (o centralismo cultural é um dos principais). Em 2012 indico 10 filmes “não-vistos” que, de acordo com a crítica e com a opinião de pessoas que reputo de bom juízo cinéfilo, poderiam alterar as listas acima referidas (organizados por ordem alfabética do título em português):
  • 007 – Operação Skyfall, de Sam Mendes (Skyfall, 2012);
  • Apollonide – Memórias de um Bordel, de Bertrand Bonello [L’Apollonide (Souvenirs de la maison close), 2011];
  • Era Uma Vez na Anatólia, de Nuri Bilge Ceylan (Bir zamanlar Anadolu’da, 2011);
  • O Gebo e a Sombra, de Manoel de Oliveira (2012);
  • A Loucura de Almayer, de Chantal Akerman (La folie Almayer, 2011);
  • O Meu Maior Desejo, de Hirokazu Koreeda (Kiseki, 2011);
  • Michael, de Markus Schleinzer (2011);
  • Morre... e Deixa-me em Paz, de Richard Linklater (Bernie, 2011);
  • O Polícia, de Nadav Lapid (Ha-Shoter, 2011);
  • Polissia, de Maïwenn (Polisse, 2011).

Finalmente, os “Razzies” deste blogue, ou seja os piores filmes do ano. Com alguma infelicidade, multipliquei cerca de meia dúzia de euros por 13, mas apenas revelarei 10 desses miseráveis.
Os 10 Piores Filmes de 2012 (ordenados da 1.ª à 10.ª posição, ou seja, do pior ao menos mau):
  1. À Fria Luz do Dia, de Mabrouk El Mechri (The Cold Light of the Day, 2012);
  2. O Corvo, de James McTeigue (The Raven, 2012);
  3. Impune, de Dito Montiel (The Son of No One, 2011);
  4. A Mulher de Negro, de James Watkins (The Woman in Black, 2012);
  5. Magic Mike, de Steven Soderbergh (2012);
  6. O Monge, de Dominik Moll (Le moine, 2011);
  7. Estrada de Palha, de Rodrigo Areias (2012);
  8. Adeus, Minha Rainha, de Benoît Jacquot (Les adieux à la reine, 2012);
  9. Declaração de Guerra, de Valérie Donzelli (La guerre est déclarée , 2011);
  10. Rampart, o Renegado, de Oren Moverman (Rampart; 2011).

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O Camaleão e a Voz Cavernosa

O vídeo deste ano recorda, uma vez mais, Bing Crosby e a época que lhe é sempre associada; o homem do anualmente reeditado “White Christmas” de Irving Berlin.
O curto filme que se segue, gravado em Inglaterra para a televisão, foi o último de Crosby. Mais um dos seus especiais para a quadra natalícia que ao longo dos anos protagonizou, representando e cantando, ao lado dos seus pares mais célebres, incluindo o seu proto-rival Frank Sinatra, a Voz.
No seu último trouxe Bowie. O Camaleão canta “Peace on Earth” num belíssimo dueto, com Bing a entoar “The Little Drummer Boy”. A gravação ocorreu no dia 11 de Setembro de 1977; Bing morre, vítima de um ataque cardíaco fulminante em pleno buraco 18 num campo de golfe nos arredores de Madrid, no dia 14 de Outubro do mesmo ano.
O Sr. Natal continua a ser recordado. E nós, à medida que vamos envelhecendo, apercebemo-nos de que a época vem carregada de uma melancolia pungente, surda, inexorável e que parece somatizar-se num imenso nó na garganta, apenas libertado pela alegria que irradia daqueles que chegaram há menos de uma década, em cujos olhos brilham lágrimas que brotam de outra fonte.


Feliz Natal! 

domingo, 23 de dezembro de 2012

Maturação

Quando esta manhã passava os meus olhos pelos blogues que consulto numa base regular, deparei-me com este texto do João Gonçalves que, embora culmine em assunto diverso àquele que me traz aqui, materializado nestas curtas palavras, avivou ainda mais o meu deslumbramento pelo filme de um realizador que tem o condão (e ele gosta de o ter) de instilar apreciações maniqueístas na crítica e nos cinéfilos espalhados por esse mundo fora (especialmente os norte-americanos – perguntem a James Caan –, que não se esquecem facilmente da mensagem muito pouco subliminar, que mesmo que o fosse seria destruída com as imagens em slideshow nos créditos finais, de Dogville (2003) e de Manderlay (2005) – a tragédia americana aferroada por um dos maiores provocateurs da cinematografia contemporânea), esse é Lars von Trier.
No ano passado, por esta altura, inclui-o na 3.ª posição do meu Top 10, atrás de Malick e de Skolimowski. Porém, enquanto estes ficaram pelo único visionamento no grande ecrã, Melancolia (Melancholia, 2011) passou, em 2012, vezes sem conta debaixo dos meus olhos, com paragens de imagem, slow motionsfast forwards e rewinds repetidos tanta vezes quanto o necessário, detendo-me ora nos pormenores, nas expressões, nas cores, ora em toda a mise-en-scène, e até repousado, de olhos fechados, a escutar apenas as ondas de choque wagnerianas com os fotogramas da esplendorosa introdução gravados na retina.
Não é por isso que deixarei de aqui postar as minhas listas, mas Melancolia foi de facto o meu filme de 2011 (saltou dois lugares), que me desculpem os adeptos do panteísmo malickiano ou os da imagética skolimowskiana, o autor de As Cinco Obstruções, levou-lhes a palma.
Para recordar:

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Os Melhores Filmes de 2012: Lista Preliminar

Pouco depois da hora em que o mundo iria acabar, e ponderado o espírito do tempo, é chegado o momento de mostrar ao meu (talvez constituído por 10 pessoas que ainda têm pachorra para ler o aqui escrevo, que de ano para ano se tornou mais insípido, desinteressante e sem a chama da exaltação perante os pensamentos exteriorizados, os sentimentos proclamados e as acções praticadas em que prevalecem impudicamente a iniquidade, a estultícia e/ou a perfídia que, decerto, resultam de um íntimo erro de base na catalogação, porque na verdade, eliminando a minha eventualmente distorcida mundividência, se tratam de formas de pensar, de sentir ou de agir justas, sensatas e/ou honestas), mas como dizia eis que, nas horas subsequentes ao pseudo-armagedão e tal como prometi, chegou o momento de revelar o meu primeiro balanço fílmico do ano, divulgando os filmes que me mereceram uma nota positiva entre aqueles que pude ver – geralmente não discorro sobre aqueles que não vejo, embora possa manifestar alguma desconfiança (um nebuloso apriorismo) em razão de inúmeros factores que me possam ajudar a intuir sobre as suas potenciais peculiaridades que me levam à troça fácil.
Assim, antes de divulgar a lista, deixo aqui ficar um pequeno resumo estatístico sobre os filmes estreados em salas de cinema nacionais em 2012, em concreto as estreias que ocorreram entre os dias 29 de Dezembro de 2011 e 20 de Dezembro de 2012, inclusive:
  1. Nesse período estrearam em Portugal 285 filmes;
  2. Do total de filme exibidos, consegui ver 59 (21%), facto incontornável e que se tratou de uma verdadeira surpresa para este vosso listómano, porquanto já me havia convencido de que este tinha sido o ano menos profícuo em deslocações ao cinema – a propensão marginal imaginada para o consumo artístico desce consideravelmente em períodos de semi-perda de soberania por resgate financeiro (pessoal e nacional);
  3. Do conjunto anterior, 2, 12 e 10 filmes foram produzidos em 2010, 2011 e 2012, respectivamente;
  4. Desses 59 filmes vistos, 24 mereceram nota positiva, 22 foram-me completamente indiferentes (o entusiasmo foi tão grande que a maioria já há muito havia debandado da minha memória, não fora a minha (in)útil mania de os pontuar no IMDB, e os 59 passariam a quarenta e muitos) e 13 foram incluídos na confusa escala que vai do “horripilante” ao “indigno” como objecto de manifestação artística;
  5. Entre os que se incluem no grupo dos 79% não vistos, destaquei 10 que eventualmente poderiam fazer aumentar a lista dos melhores, baseando-me em opiniões de profissionais e amadores da coisa fílmica que muito reputo, tanto em termos nacionais, como internacionais;
  6. Dos 24 filmes que, como já referi noutro texto, tocaram a minha veia sensível, 11 foram produzidos nos Estados Unidos;
  7. Dos 13 filmes que me repugnaram, horrorizaram, decepcionaram e/ou me induziram a náusea, 7 foram produzidos nos Estados Unidos.
Finda a estatística, eis os 24+ de 2012 (semifinalistas, como explicarei no fim deste texto), organizados por ordem alfabética – alfanumérica, se quiserem – do título em português, afora artigos definidos e indefinidos:
  • 4:44 Último Dia na Terra, de Abel Ferrara (4:44 Last Day on Earth, 2011);
  • À Queima-Roupa, de Fred Cavayé (À bout portant, 2010);
  • Amigos Improváveis, de Olivier Nakache e Eric Toledano (Intouchables, 2011);
  • Amor, de Michael Haneke (Amour, 2012);
  • Argo, de Ben Affleck (2012)
  • O Cavalo de Turim, de Béla Tarr (A torinói ló, 2011);
  • César Deve Morrer, de Paolo Taviani e Vittorio Taviani (Cesare deve morire, 2012);
  • Cosmopolis, de David Cronenberg (2012);
  • Crónica, de Josh Trank (Chronicle, 2012);
  • O Deus da Carnificina, de Roman Polanski (Carnage, 2011);
  • O Dia Antes do Fim, de J.C. Chandor (Margin Call, 2011);
  • Elena, de Andrey Zvyagintsev (2011);
  • Enterrado, de Rodrigo Cortés (Buried, 2010);
  • Holy Motors, de Leos Carax (2012);
  • Le Havre, de Aki Kaurismäki (2011);
  • Uma Lista a Abater, de Ben Wheatley (Kill List, 2011);
  • Looper – Reflexo Assassino, de Rian Johnson (Looper, 2012);
  • Martha Marcy May Marlene, de Sean Durkin (2011);
  • Millennium 1 – Os Homens que Odeiam as Mulheres, de David Fincher (The Girl with the Dragon Tattoo, 2011);
  • Tabu, de Miguel Gomes (2012);
  • Temos de Falar Sobre Kevin, de Lynne Ramsay (We Need to Talk About Kevin, 2011);
  • The Grey – A Presa, de Joe Carnahan, (The Grey, 2012)
  • Vergonha, de Steve McQueen (Shame, 2011);
  • As Voltas da Vida, de Robert Lorenz (Trouble with the Curve, 2012).
Para a semana, em texto a publicar (talvez no próximo dia 26):
  • Da lista acima mencionada, serão extraídos 10 que serão organizados por ordem de preferência e constituirão o meu Top 10Os Melhores Filmes de 2012 –, tal como 7 serão apresentados por ordem alfabética integrando a lista de “Menções Honrosas” – filmes fora do Top 10 mas que merecem destaque na lista dos 24;
  • Listarei 10 filmes não vistos que, eventualmente, poderiam influenciar as listas dos melhores;
  • Revelarei a lista dos meus mui estimados “Razzies”, que inclui 10 filmes extraídos dos 13 que considerei repugnantes, horrorosos, decepcionantes e/ou nauseantes, organizados do pior ao menos mau – o que significa que, ao contrário dos que me agradaram, a imensa comunidade que me segue não ficará a conhecer os 3 maus que ficaram de fora, assim como, note-se, os 22 que me foram absolutamente indiferentes;
  • Em resumo, só dou a conhecer o título de cerca de 58% dos filmes que tive a oportunidade de ver e quase 4,5% dos que não vi, estreados em salas de cinema durante 2012.
¡Ah, cómo me encantan los juegos florales!

Música: Os Melhores Álbuns de 2012 – Colectivo Domado



"Feels Like We Only Go Backwards"
Tame Impala – Lonerism  
(Modular)

Nota: Todos os dias úteis às 10 da manhã em ponto, revelação, por ordem aleatória, de um dos dez melhores álbuns musicais do ano (a lista definitiva do Top 10, organizada por ordem de preferência, será publicada num dos dias que se seguem à exibição do último dos dez álbuns).

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Uma Correcção


Afinal, a Medeia Filmes trouxe a referida película até ao Porto.
Ao contrário do que era anunciado nas semanas anteriores – na página da Medeia referia-se um “Em exclusivo no cinema King – Lisboa” –, o novo filme sensação do notável Leos Carax será projectado numa sala a norte da Capital: Teatro Campo Alegre, com duas sessões diárias, às 18:30 e às 22 horas.
Terá sido um recuo, ou apenas um lapso cometido por quem introduz a informação na página oficial?
Com recuo ou com lapso no hipertexto, o que para aqui é importante é, por um lado, fazer o mea culpa e corrigir a informação deixada neste texto e, por outro, saudar a feliz decisão de trazer Holy Motors até ao Porto, abrindo-se, assim, o acesso aos cinéfilos nortenhos. Para estes últimos, até logo ou até amanhã. Já o vi, mas quero vê-lo de novo. Não se trata de um filme fácil, nem acessível aos que apenas vêem o cinema como objecto recreativo, mas é uma obra-prima, de que, estou certo, me escaparam imensos pormenores no primeiro visionamento em formato franco-castelhano.

Música: Os Melhores Álbuns de 2012 – Calexico



"Splitter"
Calexico – Algiers 
(City Slang)

Nota: Todos os dias úteis às 10 da manhã em ponto, revelação, por ordem aleatória, de um dos dez melhores álbuns musicais do ano (a lista definitiva do Top 10, organizada por ordem de preferência, será publicada num dos dias que se seguem à exibição do último dos dez álbuns).

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Fazer as contas ao Cinema acima do paralelo 39ºN (act.)


Em breve, talvez no próximo fim-de-semana, será aqui publicada a lista dos filmes vistos, por este que vos quer, e estreados durante o ano corrente em salas de cinemas nacionais.
Como tem ocorrido nos anos mais recentes, haverá uma derrogação a este critério, que se traduz pela inclusão dos filmes estreados na última quinta-feira do ano civil anterior e pela exclusão dos filmes a estrear na última deste ano – neste caso, foram incluídos os filmes estreados a 29 de Dezembro de 2011 e não serão objecto de apreciação os filmes a estrear na quinta-feira 27 de Dezembro de 2012, que transitarão para o próximo ano.
Por agora, e tendo feito a trabalhosa contabilidade dos meus estados de encantamento, de decepção ou de repulsa, e de indiferença perante as obras visionadas durante o ano – aguardo apenas pelo dia de amanhã e por uma possível deslocação às salas de cinema do Grande Porto nos próximos dias –, são 24 os filmes que serão divulgados numa primeira lista e que tocaram a minha veia sensível de cinéfilo. Entre eles:
  • 11 foram produzidos nos Estados Unidos;
  • 2, 12, 10 estrearam mundialmente em 2010, 2011 e 2012, respectivamente;
  • 1 filme irá, com certeza, provocar uma derrogação adicional ao critério de inclusão da lista, dado o centralismo Medeiano neste pobre país; vi o filme no Renoir em Espanha – na versão original francesa e legendado em castelhano –, mas gostaria de vê-lo traduzido na língua de Camões para os portugueses cinéfilos que têm a infelicidade de residir longe das latitudes da Capital do Império; mas também para o mal amnésico centralóide que assola a queirosiana Província, há sempre um remédio na possibilidade internética… Ah, gente com fibra!

Até breve, antes que, por decreto, fechem a salas de cinema acima do paralelo 39. Mas, temos de convir, é bastante justo e mais que certo, a arte para os verdadeiros artistas…  

Correcção [20/12/2012, às 13:53]: Afinal, o filme referido no ponto 3, estreia hoje num cinema a Norte da Capital. Ler aqui o texto com a correcção.

Música: Os Melhores Álbuns de 2012 – Animalesca



"Today's Supernatural"
Animal Collective – Centipede Hz 
(Domino)

Nota: Todos os dias úteis às 10 da manhã em ponto, revelação, por ordem aleatória, de um dos dez melhores álbuns musicais do ano (a lista definitiva do Top 10, organizada por ordem de preferência, será publicada num dos dias que se seguem à exibição do último dos dez álbuns).

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Música: Os Melhores Álbuns de 2012 – xx



"Angels"
The xx – Coexist 
(Young Turks)

Nota: Todos os dias úteis às 10 da manhã em ponto, revelação, por ordem aleatória, de um dos dez melhores álbuns musicais do ano (a lista definitiva do Top 10, organizada por ordem de preferência, será publicada num dos dias que se seguem à exibição do último dos dez álbuns).

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O Número Mágico


Pormenor alterado do logótipo da capa comemorativa de © DanMonick & Gingko Press, para o 7.º aniversário da editora Rhymesayers e da banda Atmosphere – álbum musical e fotográfico comemorativo: Seven Years with Atmosphere and Rhymesayers.

Sete anos… Naquele 17 de Dezembro de 2005 queria que a coisa, com o tempo, se fosse moldando em algo que, em definitivo, não o é agora. Agora não o é… nada! Mas também, que diabo!, estou mais velho e cheguei este ano, há menos de seis meses, aos implacáveis “-entas”.
Chegou o tempo. Auto-análise, auto-ilusão – julgo-me 7 vezes: menos paciente, mais irritado, menos submisso, mais inquieto, menos prudente, mais desgarrado, menos crente na bondade imanente à coisa humana, mais atento às palmadas nas costas provindas da coisa.


Hélas!

Música: Os Melhores Álbuns de 2012 – Beach House



"Lazuli"
Beach House – Bloom 
(Bella Union)

Nota: Todos os dias úteis às 10 da manhã em ponto, revelação, por ordem aleatória, de um dos dez melhores álbuns musicais do ano (a lista definitiva do Top 10, organizada por ordem de preferência, será publicada num dos dias que se seguem à exibição do último dos dez álbuns).

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

E este tem dias

Já não sei o que pensar de Ang Lee, a posição crítica tornou-se bastante volátil. Não sei se é o Ang Lee de Hulk (2003), se o de O Banquete de Casamento (1993) ou de Sensibilidade e Bom Senso (1995), para citar os extremos.
Agora aferrou-se ao Booker Prize de Yann Martel, e há aplausos de gente importante, avaliadora da 7.ª arte. Porém, ainda há os que não se deixaram encantar pela exuberante garridicehá, pelo menos, esta frase espirituosa que sobressai da recensão do cáustico O’Hehir no Salon e que resulta da sua experiência de visionamento, tendo-lhe carinhosamente chamado o “Embuste Desvendado”:
«Eu senti-me como se tivesse sido convidado para um jantar de sete pratos e afinal todos se resumiram a um bolo – e, de seguida, o anfitrião insistiu em dar uma palestra sobre como o bolo poderia aproximar-me mais de Deus.»
Também gostei do destaque do artigo sobre «(…) a impossibilidade de algo na Terra brilhar com a baboseira radioactiva de “A Vida de Pi”.»
Mas, até lá – se o houver, esse tempo no futuro próximo –, prometo, não vou cair nos tão usados apriorismos catalogadores, e até pode ser que, como o farol cinéfilo Ebert, o considere como «um feito miraculoso na narração e uma proeza da mestria visual.» 

Nota: Traduções (livres) do inglês – AMC.

Música: Os Melhores Álbuns de 2012 – ERAAS



"Fang"
ERAAS – ERAAS 
(Felte)

Nota: Todos os dias úteis às 10 da manhã em ponto, revelação, por ordem aleatória, de um dos dez melhores álbuns musicais do ano (a lista definitiva do Top 10, organizada por ordem de preferência, será publicada num dos dias que se seguem à exibição do último dos dez álbuns).

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Já foi ano…

…(como se sói dizer) em que Spielberg ficava de fora dos inúmeros tapetes vermelhos que amparam os pezinhos galácticos no magote de prémios cinematográficos a entregar no princípio de cada ano civil.
Atente-se nas nomeações para os Globos de Ouro de 2013 e apesar de Tarantino ir a quase todas e de Bigelow andar perto, a mascarada será a mesma, deixando o viperino (também canastrão) enfant terrible PT de fora da parte que lhe interessava e o Wes ao lado daquela coisa do Marigold, da marmelada salmónica no Iémen e da 57.ª versão tele/cinematográfica de Os Miseráveis (na realidade, não devo andar longe) de Victor Hugo que, por um lado, tem o condão de trazer de volta aquele britânico triste, atadinho (ou formalmente agrilhoado) e cinzento do Tom Hooper e que, por outro, irá contribuir para ofuscar ainda mais, na memória de peixe-dourado do pipoqueiro nato, a muito razoável versão do dinamarquês Bille August de há quase 15 anos (é só comparar os trios: Jackman, Crowe e Hathaway (cor apropriada) vs. Neeson, G. Rush e Thurman).
E será que vamos ver de novo a Streep com aquele braço bamboleante em cima dos apensos proto-gelationosos e que saltam intensamente devido, não só, à sua proeminência, mas também ao resfolegar sexagenário, por aquela zurrapa fílmica chamada Terapia a Dois (Hope Springs, 2012)?

A 13 de Janeiro de 2013 teremos a confirmação. Entretanto fiquemo-nos, apenas, com a introdução tartamudeada das nomeações deste ano pela curiosa figura da presidente da HFPA, a "Dra. Aida" (foi pena não ter sido o habitual cómico-sério do bigodinho seboso e sotaque pior-que-Moltalban do Jorge Camara), mas temos a doce Megan (depois podem desligar, o tipo não interessa e a Alba que vá aprender a ler):


Música: Os Melhores Álbuns de 2012 – PAWS



"Jellyfish"
PAWS – Cokefloat! 
(Fat Cat)

Nota: Todos os dias úteis às 10 da manhã em ponto, revelação, por ordem aleatória, de um dos dez melhores álbuns musicais do ano (a lista definitiva do Top 10, organizada por ordem de preferência, será publicada num dos dias que se seguem à exibição do último dos dez álbuns).

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Música: Os Melhores Álbuns de 2012 – Stagnant Pools



"Solitude"
Stagnant Pools – Temporary Room 
(Polyvinyl)

Nota: Todos os dias úteis às 10 da manhã em ponto, revelação, por ordem aleatória, de um dos dez melhores álbuns musicais do ano (a lista definitiva do Top 10, organizada por ordem de preferência, será publicada num dos dias que se seguem à exibição do último dos dez álbuns).

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Amour e Indiferença

Não encontrei. O último fotograma de Amor de Haneke. Huppert, pouco depois, sentada na mesma cadeira, a do pai, siderada por um estranho brilho emoldurado pelo inquietante sossego da casa agora a seus pés. Remorso. Culpa, talvez. Mas é aquela apatia o oposto do Amor. A cruel indiferença que enche, em silêncio, o último fotograma antes do fade-out para a escuridão futura.

Música: Os Melhores Álbuns de 2012 – Byrne & St. Vincent



"Who"
David Byrne & St. Vincent – Love This Giant 
(4AD)

Nota: Todos os dias úteis às 10 da manhã em ponto, revelação, por ordem aleatória, de um dos dez melhores álbuns musicais do ano (a lista definitiva do Top 10, organizada por ordem de preferência, será publicada num dos dias que se seguem à exibição do último dos dez álbuns).

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Música: Os Melhores Álbuns de 2012 – Clinic



"Miss You"
Clinic – Free Reign 
(Domino)

Nota: Todos os dias úteis às 10 da manhã em ponto, revelação, por ordem aleatória, de um dos dez melhores álbuns musicais do ano (a lista definitiva do Top 10, organizada por ordem de preferência, será publicada num dos dias que se seguem à exibição do último dos dez álbuns).

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Resvalamento do Planalto



Ando por estes dias a observar, incrédulo e impotente (já não se trata de simples acédia), a subida, ainda por cima escabrosa, dos meus índices de PMD*. Com o efeito de retroacção sónica das Bombas V pynchonianas e o seu pavlovianismo, que por cá não se manifesta pela intumescência pré-libidinosa, nas convulsões anti-osmóticas com a espantosa turgidez narrativa de DFW**, os agonizantes odores de cansaço dos pupilos da ATE*** e que nos atingem fatalmente através de espúrias cadeiras de rodas canuck's, rejeitando com incompreensível intensidade a experialista Grande Concavidade: Quo vadis PMD!
Mais de duas mil duzentas páginas… Já nem há tempo para brevidade antologiada da ex-Auster, nem para a, pela cronologia, segunda pérola nabokoviana.
Terapêutica urgente: Reeducação Prescritiva, já!

A que vis andanças podemos tornar…****    

Notas:
*Propensão Marginal para a Demência.
**David Foster Wallace.
***Academia de Ténis de Enfield (“ETA” no original).

**** To what base uses we may return…

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Brennen, bevor es kann beobachtet werden

Volta Bradbury, os 451 ºF não garantem a pulverização completa desta coisa:



Que saloiada! Perante isto, o Para a Finlândia com Amor, de Cascais merecia, no mínimo, o Prémio da mise en scène, na secção Un Certain Regard em Cannes.

Ich bin ein baixa-da-banheiren.

domingo, 11 de novembro de 2012

Dedicado à 4.ª Internacional


E logo hoje que o bafio revolucionário se ergueu bicéfalo, como a águia da burocracia K&K dos Habsburgo, em palmas ritmadas que, num paradoxo não tão estranho, faz lembrar os arrebatados e pantomineiros congressos do PCUS.

E dizia Robert Harris no Sunday Times a propósito da publicação de uma celebrada e polémica biografia sobre aquele que burlescamente ficou para a História como o homem do piolet na cabeça:
«Se imaginar o aluno mais detestável, um radical amargo, sarcástico, arrogante, egoísta, insensível e imaturo e se congelar essa imagem no princípio do século, o resultado é: Trotsky… [Robert] Service torna absolutamente claro que o Trotskismo nada mais é que o Estalinismo embrionário… Raramente a patologia do tipo revolucionário, e suas consequências fatais, foi tão impiedosamente exposta como nesta biografia exemplar.»

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Rapsódia em Azul – Manhattan



Em degustação e por mais quatro anos…


Punch line: He’s done a great job on you. Your self-esteem is like a notch below Kafka’s.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

39 anos, 7 meses e 3 dias

Não se trata de um filme romeno, nem tão-pouco da minha idade (sou infelizmente mais velho, embora cerca de 8 meses, para que conste), mas do tempo que decorreu entre a publicação original e a edição em Portugal de uma transgressão literária que, mesmo na actualidade, continua a fazer torcer várias mentes e a vergar à humilíssima condição de falível humano os reaccionários semideuses defensores do realismo flaubertiano (e há um muito na moda) – como se isto fosse uma competição interescolar ou de mensuração perimetral e da extensibilidade máxima do órgão da soberba na eterna refrega pela masculinidade.

É somente isto:
«Uma berraria vem através do céu. Já aconteceu antes, mas nada há que a compare com agora.»
Com chancela da Bertrand e tradução de Jorge Pereirinha Pires, eis a tão magistral, como polémica, obra de Thomas Pynchon, que motivou mesmo uma suspensão de atribuição do prémio Pulitzer em 1974, embora a obra tivesse sido unanimemente eleita pelo júri nomeado para a categoria de “Ficção” – a talho de foice, constituído pelos escritores e críticos literários Elizabeth Hardwick (1916-2007) e Alfred Kazin (1915-1998), e pelo escritor, ensaísta, eminente académico e crítico cultural Benjamin DeMott (1924-2005) , porém enfaticamente rejeitado pelos visionários membros do Conselho de Administração dos referidos galardões.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Oportuno, no dia que hoje corre…


Adapte-se o contexto.
[Shhhh... no more words / Hear only the voice within. (Jalal ad-Din Rumi, 1207-1273).]

«É uma contradição […] Que cada dia e cada noite e o mundo se dividam naqueles que fazem escutas e torturam e aqueles que se calam e continuam calados.»
Herta Müller, Já então a raposa era o caçador, pág. 128
[Alfragide: Dom Quixote, 1.ª edição, Setembro de 2012, 239 pp; tradução de Aires Graça; obra original: Der Fuchs war damals schon der Jäger, 1992.]

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Quem?

(n. 1955)

Exemplar único em Portugal: Peito Grande, Ancas Largas (Lisboa: Ulisseia, 2007).

Diziam que era o Kafka à Beira-Mar, mas enganaram-se (por pouco) nas coordenadas geográficas, saiu o suposto Kafka das letras chinesas.

O seio rosado de Virgem Maria e a terminação lombar desnuda do rechonchudo Menino Jesus vistos pelo auto-reprimido de Shandong na abertura do seu único romance editado em Portugal:   
«From where he lay on the brick-and-tamped-earth sleeping platform, his Kang, Pastor Malory saw a bright red beam of light shining down on Virgin Mary’s pink breast and on the pudgy face of the bare-bottomed Blessed Infant in her arms.»
Mo Yan, Big Breasts, Wide Hips (New York: Arcade, 2004; trad. Howard Goldblatt.)
Sinais dos tempos: A Academia Sueca dobra-se ao poderio chinês e ao seu heteróclito Socialismo de Mercado. É histórico: o autor, com a sua profissão de fé mutista, instado a comentar o Prémio Nobel da Paz atribuído ao seu colega dissidente Liu Xiaobo disse que "nada tinha a dizer", da mesma forma que uns anos antes, transcreveu mudamente, com uma fé dilacerante, um dos muitos discursos do Educador do Povo para um livro comemorativo. Mao rejubilaria. Por cá, o MRPP renovou, decerto, a sua esperança no levantamento das vítimas da fome, como se sabe, completamente extinta na dita República Popular desde a derrota, em 1949, de Chiang Kai-shek. 

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Gula

Há quem lamente um certo adormecimento do vigor da ficção ultimamente produzida pelo escritor inglês Ian McEwan. Servem-se do seu natural processo de envelhecimento como caixa-de-ressonância dessa inexorabilidade, contribuindo, assim, para a perda de algum do tão característico negrume nas suas obras mais recentes. Porém, até hoje e que se note, esse negrume tão idiossincrático pairou sempre sobre a sua arte de contar histórias, e neste conceito conseguimos facilmente encaixar a sua prosa concisa, furiosa, brutal, de um sadismo muitas vezes concretizado num humor negro subtil (embora pareça um contra-senso, a subtileza desse humor esconde-se nos pormenores da vulgar vastidão das suas paisagens narrativas) ou numa ironia tão fina e penetrante que, sem darmos por isso, nos atira para um labirinto cuja única saída é o assombro e a inquietação que esse espanto provoca.
Expiação (Atonement, 2001) e Solar (2010) são, à primeira vista, os seus romances mais atípicos, porquanto no primeiro se nota a presença de um certo lirismo e de um pathos não existentes nas obras anteriores e logo abandonados nas obras que se lhe seguiram: Sábado (Saturday, 2005) e a novela Na Praia de Chesil (On Chesil Beach, 2007); no segundo a deliberada hiperbolização do grotesco e as passagens de uma hilaridade de levar o leitor às lágrimas parecem fugir ao cânone mcewaniano. Nada de mais enganador, são artifícios que um McEwan mais refinado, e talvez, na aparência, um pouco menos fragoso, foi desenvolvendo com o maturar da sua escrita: as sombras, a perversidade e a perfídia irreparável encontram-se no subtexto, por muito que alguém se queira enganar com as atribulações do romance "Robbie/Cecilia" ou com as peripécias pessoais e profissionais do físico, burlesco e peripatético, "Michael Beard".
Com Mel (Sweet Tooth, 2012; ed. port. Gradiva), McEwan acrescenta à sua ficção, por um lado, a auto-referencialidade e, por outro, a sucessão vertiginosa de factos, pseudo-rupturas, acidentes e peripécias na narrativa, que se consubstanciam numa representação simbólica das famosas caixas chinesas.  
Se, por exemplo, a auto-referencialidade se evidencia sobretudo com a colectânea de contos negros Entre os Lençóis (In Between the Sheets, 1978) – porventura o mais perverso livro de McEwan, cujas histórias servirão como base para a fulgurante estreia literária de "Thomas Haley" –, afigura-se-me como tortuoso, e até de difícil justificação, deixar cair o epíteto de áspero ou negro para caracterizar Mel. A gula tão humana no crisol da sua existência.

Deixando a crítica aos recenseadores ajuramentados da nação lusa, termino com a minha sintética opinião: Mel é mais uma pérola literária do escritor inglês do Hampshire, uma obra-prima. Surpreendente, escrito numa cadência sufocante – à medida que as caixas se vão abrindo –, é mais uma proeza de um virtuoso que parece dispor de recursos infinitos para nos assombrar de uma forma irresistível e, no entanto e por agora, Serena.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Fincheriana


13 episódios

David Fincher (co-produtor da série e realiza os dois primeiros episódios), seguem-se:
Joel Schumacher
Charles McDougall
Carl Franklin
Alan Coulter

Com o notável duo de actores bem conhecidos do Mestre de Denver:
Kevin Spacey // Robin Wright